quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Prefeito do PSOL leva Carta ao Encontro Nacional de Prefeitos em Brasília

Nesta semana, realizou-se o Encontro Nacional de Prefeitos em Brasília/DF. Confira carta distribuída pelo Prefeito de Itaocara, Gelsimar Gonzaga, do PSOL, no encontro:


“Nota a presidente Dilma, aos Prefeitos e à imprensa
A reunião convocada pela presidente Dilma Roussef com os prefeitos do país deve servir para discutir os graves problemas dos municípios, já que recentemente empossados, os prefeitos enfrentam situações calamitosas, que em muitos casos nos coloca frente a verdadeiras emergências visto o descalabro produzido por gestões anteriores.
A crise econômica, a privatização dos Hospitais Universitários e a política de isenções fiscais do governo federal tende a agravar tal quadro. No caso de Itaocara/RJ, o Hospital é de uma associação e, ainda assim, por ficar as margens do rio Paraíba, fica alagado por uma semana quase todos os anos. É necessário e urgente a construção de hospitais e outras unidades de atendimento de saúde nos municípios, assim como a de um grande hospital regional para atender todo o noroeste fluminense, carente de atendimento de média e alta complexidade.
Frente a esta situação de caos é necessário que o governo atue com a urgência imperiosa que requer o difícil momento, para que esta reunião não se converta num simples palanque pré-eleitoral com anúncios retóricos de planos em andamento ou de velhas promessas que não saem do papel.
É inconcebível que um país rico como o Brasil, cuja economia ocupa o sexto lugar no ranking mundial, suporte os mesmos problemas de nações com escassos índices de desenvolvimento econômico ou empobrecidas pelo padecimento de guerras ou de governos ditatoriais.
Já basta de um Brasil cujo governo é generoso com os interesses dos grandes empresários, dos banqueiros e do agronegócio, onde os políticos enriquecem com o incentivo da impunidade, enquanto o povo carece das mais elementares condições para resolver suas necessidades mínimas.
Não é razoável que num país onde os municípios, e neste caso as pessoas – a grande maioria delas -, passe por uma crise aguda, a política econômica seja marcada pela austeridade que beneficia e prioriza o setor financeiro.
Neste cenário, ainda figura o dinheiro injetado com pouquíssima transparência para a Copa do Mundo com obras, exigidas pela FIFA, de duvidosa utilidade para o futuro de nossa população. O mesmo acontece com os créditos subsidiados a poderosos empresários, como Eike Batista, que recebeu R$200 milhões do BNDES para reformar o Hotel Glória; porém, burlando as disposições que regulamentam os recursos da linha Pró-Copa Turismo do banco estatal, que financiam exclusivamente obras de interesse para a Copa do Mundo, o Hotel não ficará pronto para esta data. Finalmente, uma política econômica como a que vem sendo implementada pelo governo federal com o apoio dos governos estaduais, que privilegia o sistema financeiro destinando quase 50% do orçamento de 2013 para o pagamento de juros e amortizações da dívida público. Além disso, a Lei de Responsabilidade Fiscal, longe de ser um instrumento de controle das contas públicas, só serviu para conter os investimentos sociais e estrangular o salário do funcionalismo.
Para começar a mudar este cenário, a única alternativa é inverter as prioridades: nenhum centavo deve ser reduzido das verbas sociais para engordar o superávit primário. Desde nossa humilde localização achamos que podem ser dados alguns passos para atacar as mazelas que existem em todos os municípios.
Como representante de Itaocara, pequeno município do noroeste fluminense, quero propor um plano emergencial que atenda a catastrófica situação da saúde pública evitando novos sofrimentos à população. Necessitamos com urgência da ampliação dos recursos financeiros para este setor, para realizarmos com êxito o combate à dengue, para ampliar a capacidade de internação, para impedir que pacientes continuem sendo rejeitados ou atendidos no chão dos corredores dos hospitais. Daremos a atenção de qualidade que merece o povo brasileiro através de mais recursos para contratação de médicos, técnicos, pessoal administrativo, equipamentos, remédios, ambulâncias, assim como com a construção de novas unidades. 
Para tanto, é necessária uma determinação política por parte da presidente e, para que estas medidas sejam aplicadas de forma imediata, o orçamento da saúde deve subir para 10% das receitas correntes brutas da União, alterando a Lei Complementar nº 141 de 13/01/2012, que relega a verba para a saúde de acordo com a variação do PIB. Para chegar nesse percentual não vemos que deva ser criada um tipo de nova CPMF, mas ao contrário deve ser retirado dos milhões que são enviados todos os meses para banqueiros e latifundiários através da dívida pública. 
Finalizada esta reunião saberemos se o esforço desta mobilização valeu a pena ou se, mais uma vez, os recursos públicos foram utilizados para uma jogada de marketing deixando o nosso Brasil amargando péssimas posições no índice de desenvolvimento humano.
Gelsimar Gonzaga, 27 de janeiro de 2013.”

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Pela grandeza política do parlamento!


O Senado da República e a Câmara dos Deputados não podem ficar prisioneiros da política rasteira, fundada no patrimonialismo, no clientelismo, no toma lá dá cá da mera reprodução de mandatos – por mais que essas práticas sejam antigas na vida nacional.
Suas Mesas Diretoras e, em especial, suas Presidências, precisam fazer ‘a política que é História’, como já clamava, no século XIX, o senador Joaquim Nabuco – além de ter, por óbvio, uma história na vida pública coerente com essa visão. Nosso ordenamento jurídico-político, emanado da Constituição de 1988 em rico processo de participação popular, foi gestado por uma Casa Legislativa independente e sintonizada com os anseios das maiorias sociais. Toda mobilização cidadã agrega grandeza ao Parlamento brasileiro. Alheio a ela, ele se rebaixa.

É preciso voltar a fazer do Congresso Nacional o espaço do dissenso democrático e  da disputa de ideias. O Parlamento tem que ser uma usina de propostas para o país e de reflexão sobre os caminhos do mundo. É urgente resgatar valores hoje apequenados - como interesse público, igualdade de direitos, ética na política e equilíbrio ambiental -, derrotando a ganância particularista, o balcão de negócios, o fisiologismo, as discriminações e o ‘crescimentismo’ predatório.
Nenhum tema deve nos assustar: todos devem ser enfrentados e discutidos, sob pena de continuarmos perdendo nossa capacidade de legislar. E nem exclusivamente de legislar, pois há uma pletora de leis neste país: nos âmbitos municipal, estadual e federal são 3,7 milhões!  É também missão do Parlamento zelar pelo seu cumprimento efetivo – aí entendidos, inclusive na gestão da Câmara dos Deputados, os princípios constitucionais da LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE E EFICIÊNCIA (CF, art. 37), dos quais temos andado bem distantes. Urge regulamentar os 140 dispositivos constitucionais ainda sem normatização e fiscalizar o Executivo, ao invés ficar mendigando favores e pegando carona em suas Medidas Provisórias - ali colocando, vergonhosamente, as matérias mais estranhas -  e barganhando votações, até com chantagens.
Por isto, em sintonia com o movimento de senadores independentes, que se articula em torno da candidatura à presidência daquela Casa de Randolfe Rodrigues (AP) ou Pedro Taques (MT), apresentamos as propostas abaixo, na expectativa de que venham a ser assumidas por uma candidatura à altura da vocação de grandeza do Parlamento brasileiro, com o resgate de sua AUTONOMIA, INDEPENDÊNCIA, PROTAGONISMO, AUSTERIDADE e TRANSPARÊNCIA, hoje tão ameaçados.
1)      Votação da Reforma Política – a partir do relatório Henrique Fontana, com financiamento exclusivamente público de campanha, convocação de plebiscitos e referendos para grandes temas nacionais, maior facilidade e prioridade para a tramitação de projetos de iniciativa popular e instalação imediata de uma mesa de diálogo com a ‘Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política’ (www.reformapolitica.org.br);
2)      Votação das PECs inconclusas, como a que extingue o voto secreto no Parlamento e a que garante a jornada de 40 horas semanais de trabalho, mesmo sem o consenso entre os líderes;
3)      Cronograma para apreciação paulatina dos milhares de vetos presidenciais pendentes, sem atropelos, instituindo as 5ªs feiras para esta tarefa, até sua conclusão;
4)      Prioridade para votações de PLs e PECs de parlamentares, com prioridade em função do seu alcance social, como o PL 3299/2008, do Senador Paim, que extingue o Fator Previdenciário;
5)      Orçamento impositivo e realista, precedido pela votação dos projetos que vedam pagamento de emendas parlamentares a entidades cujos sócios sejam seus parentes ou assessores (PLP 21/2007, Paulo Rubem Santiago) e normatizam a execução das emendas (PL 3427/2012, Érica Kokay);
6)      Vedação de contribuição de campanha para beneficiários de recursos da verba parlamentar indenizatória e votação do projeto que acaba com as doações ocultas de campanha (PL 4340/2012, bancada do PSOL);
7)      Votação urgente do projeto que extingue o 14º e 15º salários, já aprovado pelo Senado;
8)      Relação altiva com o Executivo, exigindo respeito aos critérios de real urgência e relevância na edição das Medidas Provisórias;
9)      Garantia do direito das minorias, sem tratamento diferenciado entre parlamentares e bancadas, coibindo abusos como o de partidos usufruindo mais cargos que o estipulado, e democratização das relatorias dos projetos, com o fim da sua centralização em algumas personalidades e partidos;
10)   Aprofundamento das iniciativas de transparência e controle externo do Legislativo, tais como: a) fixação de critério definitivo – no limite da reposição da perda inflacionária, a cada Legislatura – para a remuneração dos parlamentares e da alta hierarquia dos outros poderes; b) publicação de todos os gastos, de todos os setores, na Página da Câmara, inclusive abrindo o acesso às notas comprobatórias de gastos com a verba indenizatória; c) sinal de canal aberto para a TV Câmara; d) estímulo ao acesso popular às sessões de comissões e plenárias; e) redistribuição mais funcional dos espaços da Casa, coibindo sua ‘privatização’ por direções partidárias, e buscando racionalidade e economia no serviço de moradia aos parlamentares; f) fortalecimento da Corregedoria, da Ouvidoria e do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, para que funcionem como organismos mais atentos à população que buscamos representar do que de ‘defesa da corporação’; g) exigência de serviços de qualidade e respeito aos direitos trabalhistas por parte das empresas contratadas; h) agilidade na efetivação do que for determinado pelo STF, após o devido processo legal, quanto à perda ou suspensão de direitos políticos de parlamentares (CF, art. 55, inciso IV)

Brasília, 24 de janeiro de 2013
Os deputados da Bancada do PSOL na CD

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Juíza manda o Estado garantir internação imediata em leito hospitalar de paciente do SUS em Cascavel



Publicamos logo abaixo e na integra a decisão em caráter liminar proferida pela Juíza da 3ª Vara Cível de Cascavel na Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público em favor de um usuário do SUS de Cascavel que aguardava por um leito hospitalar para o tratamento de enfermidade a mais de 10(dez) dias.

Em nossa cidade o Conselho Municipal de Saúde, desde a aprovação da Resolução 030/12 de 20/08/2012, que determina o tempo máximo de espera por leito hospitalar no SUS em 72:00 horas, vem monitorando e notificando o Ministério Público quando houver descumprimento deste prazo, para as providências cabíveis.

No caso em tela, esta extrapolação foi muito maior e exigiu a propositura da presente Ação Civil Pública(ACP), que foi protocolado  no dia 14/01/2013.

A decisão em favor do Sr. ARI VIEIRA DOS SANTOS, para a internação imediata . . . no prazo máximo de 6(seis horas). . . sob pena de multa diária de 3.000,00 (três mil reais), no dia 16/01/2013.

E o Mandado de Citação do réu (Miroslau Bailak - Chefe da 10ª Regional de Saúde) foi expedito às 15:00 horas deste mesmo dia.   

Quanto ao internamento . . . e cumprimento da presente sentença judicial . . . acredito que ocorrerá imediatamente. Mas estamos aguardando a confirmação. 

Acreditamos que devemos cada vez mais exigir os nossos direitos, consagrados na Constituição Federal da Republica, e particularmente o direito a saúde. Lamentamos porém que tenhamos que apelar para tanto, com tantos esforços para conseguir aquilo que tão somente é nosso por direito.

  


PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DE CASCAVEL
3ª VARA CÍVEL DE CASCAVEL - PROJUDI
Avenida Tancredo Neves, 2320 - Cascavel/PR - CEP: 85.805-000 - Fone: (45) 3321-1200

Autos nº. 0000966-25.2013.8.16.0021

1- Trata-se de autos de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público em favor do paciente Ari Vieira dos Santos em face do Estado do Paraná, na qual o autor pleiteia antecipação de tutela para que seja disponibilizado, , ao paciente um leito hospitalar imediatamente com qualificação para atendimento na área de neurologia para que seja adequadamente tratado do AIT/AVC que foi acometido, disponibilizando-se todos os recursos necessários ao bom atendimento necessário, sob pena de multa diária e/ou prisão.

2– Deixo de determinar a oitiva prévia do Estado do paraná acerca do pedido de antecipação de tutela, tendo em vista o caráter EMERGENCIAL do pedido.

3 - No caso dos autos, no juízo provisório, de cognição sumária, adequado ao presente momento procedimental, está presente a exigida prova inequívoca da verossimilhança da alegação, já que o autor logrou êxito em demonstrar através dos documentos juntados aos autos que o beneficiário está com um quadro de AIT/AVC com desvio de rima a esquerda e diminuição da força motora nos membros superiores esquerdos desde 05.01.2013, ou seja, há 10 (dez) dias atrás, oportunidade em que foi acolhido na UPA- Unidade de Pronto Atendimento localizada na Avenida Tancredo Neves, em Cascavel, recebendo prescrição médica para atendimento neurológico (fls. 18).

Na mesma data, em atenção à Portaria GM 2048/03 que regula o acesso aos leitos hospitalares, foi acionada a Central de Regulação de Leitos do Estado do Paraná, sob a responsabilidade da 10ª Regional de Saúde, requerendo imediata disponibilização de vaga para o paciente.

No entanto, até agora, passados 10 (dez) dias, a vaga não foi obtida.
O fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação também restou demonstrado nos presentes autos, de plano, conforme prevê o artigo 273 do Código de Processo Civil, uma vez que se trata de paciente com acidente vascular cerebral, doença grave como atestou o relatório médico, sendo que a falta de atendimento médico poderá colocar em risco a vida do paciente Ari Vieira dos Santos.

Quanto à responsabilidade do ora réu, verifica-se que Constituição Federal, em seu artigo 196, diz que a saúde é "direito de todos e dever do Estado", que deverá ser garantido através de políticas públicas que possibilitem o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços. Basta este dispositivo previsto no texto Constitucional para que se tenha como dever da Administração garantir o direito de todos à saúde. As normas infraconstitucionais que procuraram dar efeito integrador ao texto Constitucional seriam até despiciendas se existisse a consciência, por parte de todos os responsáveis pelas administrações de todos os entes federados, de que a Constituição Federal, com sua força normativa, constitui força que deve influir na realidade e ser cumprida por todos.

O dever da Administração municipal, estadual e federal é de concretizar o direito à saúde dos cidadãos garantido constitucionalmente.
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em http://portal.tjpr.jus.br/projudi - Identificador: PJXXB F3D6D WNR59 849TD PROJUDI - Processo: 0000966-25.2013.8.16.0021 - Ref. mov. 7.1 - Assinado digitalmente por Gabrielle Britto de Oliveira

16/01/2013: CONCEDIDO O PEDIDO . Arq: Decisão 

Da análise dos autos, verifica-se que a central de leitos hospitalares é administrada pela 10ª Regional de Saúde do Estado do Paraná, logo, o referido ente federativo, deverá cumprir o comando constitucional acima referido.   

Pelo exposto, defiro a antecipação dos efeitos da tutela requerida, com fundamento no artigo 273 do CPC e determino ao réu que disponibilize , ao paciente imediatamente Ari Vieira dos Santos m leito hospitalar com qualificação para atendimento na área de neurologia para que seja adequadamente tratado do AIT/AVC que foi acometido, disponibilizando-se todos os recursos necessários ao bom atendimento necessário, no prazo máximo de 6 (seis) horas.

Intime-se pessoalmente o Diretor da 10ª Regional de Saúde para cumprir a decisão.
Fica estipulada a multa diária de R$ 3.000,00 (três mil reais), até o limite de R$ 300.000,00
(trezentos mil reais), a ser aplicada ao réu, em caso de eventual descumprimento, com
fundamento no artigo 461, § 5º do CPC, a ser revertido para fundo gerido pelo Conselho Municipal de Saúde.

3- - Cite-se o réu, com as cautelas legais.
4– Advinda a contestação, diga o autor.
5- Em seguida, contados, voltem para sentença, visto que o feito comporta julgamento antecipado da lide, na forma do disposto no artigo 330, inciso I do Código de Processo Civil.

Cascavel, 16 de Janeiro de 2013.
Gabrielle Britto de Oliveira
Magistrado

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Direitos dos Trabalhadores sob ataque do governo

‘Objetivo do governo e dos empresários é desregulamentar o direito do trabalho no Brasil’

ESCRITO POR VALÉRIA NADER E GABRIEL BRITO, DA REDAÇÃO DO CORREIO DA CIDADANIA  
SEXTA, 21 DE DEZEMBRO DE 2012

Ao contrário dos tempos iniciais de crise econômica internacional, o Brasil já não trata mais a atual conjuntura como mera “marola” e se conforma em se esforçar para manter modestos índices de crescimento. Nesse sentido, o governo tomou diversas medidas de incentivo ao investimento empresarial, especialmente através da desoneração da folha de pagamento em cerca de 40 setores, medida que Guido Mantega considera “liberar geral” a partir de 2013.


Para tratar do assunto através da perspectiva da classe trabalhadora, que não tem garantida estabilidade alguma, o Correio da Cidadania entrevistou o advogado e assessor sindical Jorge Luís Martins, para quem a atual onda de desregulamentação trabalhista é puxada pela China e sua obsessão pelos índices de produtividade de que tanto necessita.


Além disso, Jorginho, como é conhecido o ex-membro da CUT, explica que o empresariado conta com todo o apoio do governo no sentido de retirar direitos e baratear custos. Basta conferir os projetos que o Planalto pretende levar adiante através de leis mais duras em relação ao direito de greve, às negociações trabalhistas e à regulamentação oficial das terceirizações, inclusive de atividades-fim da empresa.


“O que se pretende de fato com a anunciada regulamentação é acabar com o direito de greve. Governo e empresários pretendem criar tantos empecilhos e cláusulas proibitivas para se fazer uma greve que, na prática, acabam com o direito, a exemplo do último anúncio de greve dos metroviários de São Paulo”.


No geral, Jorginho traça um quadro negativo para a classe trabalhadora, desde sua instância mais organizada, os sindicatos, que estabeleceram uma “paz de cemitérios”, aos trabalhadores mais precarizados, ainda contumazes vítimas de trabalho escravo, para ele tratado pelo governo com muito pouco rigor. Além disso, o mesmo tenderá a se refletir na previdência, sempre desviada de sua finalidade e utilizada pelos distintos governos como “caixa comum”.

A entrevista completa pode ser lida a seguir.


Correio da Cidadania: Ao longo do ano, foi tomada uma série de medidas, pouco ecoadas e debatidas, em torno aos direitos sociais e trabalhistas. Nos últimos meses voltaram a circular notícias específicas ligadas ao mundo do trabalho. Como tem enxergado, no geral, o campo do trabalho, os direitos sociais e as discussões em torno da legislação trabalhista neste ano, sob o governo Dilma?

Jorge Luís Martins: Nas duas últimas décadas, a pressão acerca de alterações da legislação trabalhista tem aumentado. Um dos principais fatores é a pressão que a China exerce no sentido de barateamento dos custos da produção e do altíssimo índice de produtividade.

Naquele país, vigora uma brutal desregulamentação das condições de trabalho, que torna a mão de obra algo impressionantemente precária, haja vista os sucessivos acidentes nas minas de carvão e as denúncias de trabalho infantil e utilização de trabalho de presos.

Correio da Cidadania: Algo marcante em 2012 neste campo foi a desoneração da folha de pagamentos em 20% para até 40 setores da economia nacional, sob alegação de combate à crise internacional e manutenção dos índices de atividade econômica do país dentro das metas oficiais. Qual é, a seu ver, o impacto social desta medida?

Jorge Luís Martins: Evidentemente que a crise internacional é um ingrediente a mais no debate, mas é importante ressaltar que o empresariado brasileiro já usa e abusa da “teoria” do “custo Brasil”, com a qual tenta atribuir os custos da produção no Brasil aos direitos, mínimos, expressos na CLT e a outros adquiridos na Reforma Constitucional de 1988. Porém, o problema é muito mais relativo ao atraso tecnológico do país, bem como ao débil sistema de ensino público.

Além do mais, os empresários partem da falsa premissa de que pagam elevadas taxas de impostos, o que na verdade não se sustenta em relação aos países desenvolvidos. Assim, o governo, ao desonerar os empresários de pagamento de impostos, na realidade joga ainda mais precariedade nos serviços públicos e nas obrigações do Estado, com a diminuição dos investimentos, em especial nas áreas de educação e saúde.

Correio da Cidadania: Pensando em outros casos específicos, o Acordo Coletivo Especial de Trabalho está em debate no Congresso e traz de volta a ideia de fazer prevalecer o negociado entre patrões e empregados sobre direitos já assegurados em lei. O que pensa disso?

Jorge Luís Martins: Este debate não é novo, pois desde o governo de FHC, e depois o de Lula, se buscou construir um acordo para uma Reforma Sindical e Trabalhista. Com o argumento da necessidade de alterar a CLT, colocaram-se a lógica e concepção de “liberdade de negociação”, ou seja, o que for negociado prevalecerá sobre a Constituição. Se aprovado este modelo, será a barbárie sobre os poucos direitos conquistados, pois o patronato não hesitará em chantagear os trabalhadores para acabar com o direito de férias, 13º, FGTS, dentre outros, com um simples argumento: “ou reduzo meu custo cortando direitos através de um acordo especial, ou terei que demitir”. Importante ressaltar que, neste caso, o fato é ainda mais grave, pois, se um sindicato se recusar a assinar, poderá a Federação, Confederação ou ainda uma Comissão de Trabalhadores, em última instância, fazer o malfadado acordo.

Correio da Cidadania: Está ainda em discussão na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados projeto que regulamenta a terceirização no Brasil em todos os tipos de atividades dentro de uma empresa, não só naquelas acessórias, como limpeza e segurança, mas também as próprias atividades-fim (hoje, terceirização de atividades-fim não é permitida pela lei). Neste caso, o que pode resultar, a seu ver?

Jorge Luís Martins: Ao contrário da alegação dos empresários, o trabalho no Brasil já é demasiadamente desregulamentado, haja vista que mais de 40% da mão de obra não tem registro em carteira, para não falar de trabalho informal, infantil e escravo, que ainda existem até hoje. Assim, a terceirização de atividades “fim” será mais um golpe no sentido de driblar a legislação, transferindo a produção para empresas terceirizadas, que em geral desrespeitam as normas de jornada de trabalho, segurança e medicina, ou seja, condições básicas. Tudo isto para baratear os custos da produção e manter a lucratividade e a competitividade das empresas.

Correio da Cidadania: Algo que também está no ar é a nova proposta de Dilma para a Lei de Greve do Setor Público, antes que fosse regulamentada a Convenção 151 da OIT que regulamenta as negociações coletivas. Como está esta discussão e qual a sua opinião?

Jorge Luís Martins: A Constituição Federal de 1988 garantiu aos servidores o direito à organização sindical, mas ao mesmo tempo não regulamentou o direito à negociação. Assim, os servidores ficam à mercê dos governos (federal, estadual ou municipal) de plantão, que não cumprem acordos e não garantem anualmente sequer as correções salariais necessárias para repor as perdas - a exemplo dos tempos de FHC, quando os servidores passaram oito anos com 0% de reajuste e permanecem em sua ampla maioria sem um plano de carreira decente.

Correio da Cidadania: Esse projeto do governo guarda relação com a recente greve dos servidores federais, a maior dos últimos 10 anos e que teve alta resistência oficial às negociações?

Jorge Luís Martins: Os trabalhadores brasileiros estão prestes a sofrer uma derrota histórica, ou seja, a regulamentação (ou fim, na prática) do direito de greve dos servidores e ainda a noticiada regulamentação de greve dos chamados “setores essenciais”. O que se pretende de fato com a anunciada regulamentação é acabar com o direito de greve. Governo e empresários pretendem criar tantos empecilhos e cláusulas proibitivas para se fazer uma greve que, na prática, acabam com o direito. Um exemplo é o último anúncio de greve dos metroviários de São Paulo, em que a Justiça, em liminar, antes mesmo do início do movimento, determinou que 90% dos funcionários do metrô deveriam trabalhar, sob pena de multas diárias de alguns milhares de reais.

Correio da Cidadania: O que pensa a respeito da sofreguidão com que avança a PEC 438, que visa combater e eliminar o trabalho escravo, ainda em franca e subestimada vigência?

Jorge Luís Martins: O trabalho escravo no Brasil, embora seja considerado crime, na prática não leva nenhum empresário para a prisão, da mesma forma que o trabalho infantil. Um câncer de um modelo de desenvolvimento que não tem nenhuma preocupação pela dignidade humana. Assim, enquanto não se impuser uma legislação para expropriar as terras e empresas que utilizam o trabalho escravo, nenhuma lei por si só será cumprida, pois a tradição demonstra que o capitalismo selvagem só se movimenta na medida em que decisões, políticas e jurídicas, afetem seu patrimônio.

Ao que tudo indica, no entanto, os governantes e o Poder Judiciário ainda fazem vista grossa e acreditam ser possível alterar esta situação de calamidade com conversa fiada - ou seja, somente através da criação de factóides, a cada descoberta de trabalho escravo, que são esquecidos na semana seguinte, com novos fatos e escândalos de toda ordem.

Correio da Cidadania: Agora, ao final do ano, existe a perspectiva de fim do fator previdenciário. O que pensa de seu eventual fim?

Jorge Luís Martins: Na realidade, o fator previdenciário, com a alteração da concepção da garantia por tempo de serviço para tempo de contribuição, foi introduzido por FHC e mantido por Lula e Dilma desavergonhadamente. Os sucessivos governos fizeram dos fundos da previdência pública um “caixa comum”, possibilitando aos governos utilizarem o dinheiro das previdências em qualquer área, através da DRU (Desvinculação das Receitas da União). Com este mecanismo, a União vale-se de manobra anômala para minguar a afetação dos recursos públicos e obter a livre alocação de receitas à revelia dos preceitos constitucionais.

Correio da Cidadania: Como analisa a atual situação e também atuação dos órgãos públicos ligados à proteção do mundo do trabalho, começando pelo próprio Ministério do Trabalho e Emprego?

Jorge Luís Martins: O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) tem uma estrutura arcaica, precária e tem pouquíssimo poder de fazer cumprir qualquer norma, quer seja em relação às condições de trabalho, quer seja em relação ao descumprimento dos direitos constitucionais. Ao longo do tempo, tem virado um “cabidão de emprego” para alojar os partidos da base do governo. Sem concurso público decente há anos, o MTE vive a situação de ver seu quadro de funcionários envelhecer. Fazer alterações para fortalecer o órgão vai na contramão dos objetivos do empresariado e do próprio governo de desregulamentar o direito do trabalho no Brasil

Correio da Cidadania: O que dizer do atual nível de auto-organização e atuação política do mundo do trabalho? Quais as perspectivas que se colocam para o avanço da consciência de classe e uma maior conexão das lutas entre os vários trabalhadores?

Jorge Luís Martins: Dificílimas, pois no final dos anos 70 surgiu a CUT, com a proposta de lutar contra a estrutura sindical no Brasil, mas, ao longo do tempo, a CUT se adaptou e hoje convive tranquilamente com o sistema e os governos, desfrutando do dinheiro do imposto sindical e de bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para a realização de “cursos profissionalizantes”.

Da mesma forma, a CUT não mais questiona o poder normativo da Justiça do Trabalho, que a cada dia amplia suas decisões de liminares e interditos proibitórios, com pesadas multas contra as entidades sindicais. E ainda deixou de lutar pela liberdade de organização sindical.

A ampla maioria dos sindicatos hoje é de meros carimbadores, garantidos graças ao monopólio de representação. Assim, estabeleceu-se ao longo dessas últimas duas décadas um pacto de “paz dos cemitérios”. Embora os trabalhadores continuem a ter sua situação econômica e suas condições de trabalho mais precarizadas, cada uma das centrais “cuida de seu pedaço” e ninguém briga com ninguém.

Correio da Cidadania: Faria alguma diferenciação entre as posturas de Dilma e Lula no que se refere aos temas aqui tratados?

Jorge Luís Martins: Lula prestou um grande desserviço aos trabalhadores ao declarar que “dias em greve deveriam ser descontados”, isso sem levar em conta a razão pela qual os trabalhadores estão em greve. E ainda alimentou as bases da desregulamentação do mercado de trabalho. Por outro lado, Dilma tem sido mais sofisticada: depois de defender a substituição de trabalhadores federais em greve por outros servidores do Estado, descontou os dias de greve, mas forçou acordos para devolução dos descontos, com o retorno dos mesmos ao trabalho. Assim, cumpre os pressupostos do chefe e aprimora no “bate e assopra”. Aos poucos, vai minando o direito de greve e introduzindo novos mecanismos de pressão e chantagem contra a classe trabalhadora.

Valéria Nader, economista e jornalista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista do Correio da Cidadania.